Parte da população mundial vive em extrema pobreza, e obviamente com precária alimentação. A Organização das Nações Unidas estima os miseráveis em 10%, cerca de 770 milhões de pessoas. É uma situação constrangedora, para dizer o mínimo, que se arrasta por séculos e não resolvida por falta de, digamos, sentimento de humanização; pois os avanços tecnológicos acontecidos já seriam suficientes para colocar alimento no prato de todos com uma administração socioeconômica globalizada.
Ao longo do século passado uma série de tecnologias foi incorporada às práticas agrícolas, como adubação, manejo do solo, formas de plantio, melhoramento genético, maquinários para plantações em larga escala, modificação genética e tantas mais. Vamos acrescentar em separado a descoberta e uso de pesticidas, por assegurar o aumento das colheitas conquistadas com as outras técnicas citadas. O aumento da produtividade após 1940 foi palpável, e tão incrível após 1960, que foi cunhada de Revolução Verde.
Mas o ser humano é beligerante, ao menos quando se observa a história, e gosta de conflitos. O sucesso dos pesticidas enfureceu determinados grupos que pregam as técnicas de outrora, ou seja, capina com enxada para combater as ervas daninhas, uso de rochas calcárias em pó ou hidratadas, misturas de cal com sulfato de cobre, sulfato de zinco e/ou enxofre para tentar reduzir a progressão dos ataques de insetos, ácaros, nematoides, bactérias, fungos e vírus. Não esquecer os extratos de folhas, como da árvore neem, e as caldas de fumo, de pimenta-do-reino e até leite cru.
De tal forma que existe um alarido mundial contra os pesticidas, acusados de deixarem resíduos em nossa comida e que causariam diversos malefícios à saúde.
Neste contexto, com 70 milhões de siameses em 515.115 km2, a Tailândia proibiu ano passado o uso do Glifosato, o herbicida mais utilizado no mundo. O caso acendeu uma luz amarela, pois a atitude foi tomada diante de uma espécie de histeria que tomou de assalto a imprensa internacional e encobriu como uma névoa o entendimento das pessoas. Uma verdadeira idade das trevas. Não se faz necessário provar nada, é de conhecimento geral e pronto.
Ocorre, neste caso, que passado um pouco de tempo, o país percebeu que continuava importando soja e outros produtos agrícolas dos Estados Unidos e do Brasil, e estes países não proibiram o Glifosato. Portanto, a alimentação continuava contaminada com o perigoso agrotóxico. Vamos estabelecer um limite rigoroso de resíduos para aceitar esses alimentos, vociferou o chefe de gabinete estatal. Vamos usar o limite internacional de “default” – 0,01 mg/kg, e barrar essas importações.
Foi quando um conselheiro governamental esclareceu que seria impossível obrigar aqueles países a cumprir com a exigência, pois produziam soja em larga escala e não seria viável retornarem a usar mão-de-obra intensiva e enxada, e, ademais o preço ficaria insuportável. Resultado: rasgaram o Decreto da proibição do Glifosato.
Bem, hoje a população mundial é de 7,7 bilhões de pessoas, mas em 30 anos, por volta de 2050, será de 9,7 bilhões. Claro que deveremos usar o máximo possível das terras agricultáveis, mas é bom lembrar que 55% das plantações são destinadas às pessoas, 36% para o gado e 9% para os biocombustíveis e a indústria. Dados da FAO. Urge também acabar com o desperdício de alimentos, hoje por volta de 25%.
O certo é que devemos mais que dobrar a produção de alimentos para atender a demanda na metade deste século. A tarefa não é nada fácil do ponto de vista técnico e administrativo, mas possível, diante das terras e tecnologias disponíveis. E, por favor, nada de render-se à turba retrógada e anti-ciência; e àqueles outros que gostam de ver o indígena na floresta, como zoológico natural, em vez de elevar o seu padrão civilizatório ao patamar normal de seres humanos. Todos nós viemos das florestas, por que então saímos?
O início do esgotamento das fontes de petróleo e carvão, juntamente com o aumento de utilização de novas fontes energéticas, tais quais usinas hídricas, eólicas e solares, biocombustíveis e novos tipos de baterias, estão alterando essa conjuntura toda. Vamos aguardar.
Porém ainda temos a explorar melhor os ecossistemas marítimos; e sonhar com a sintetização de vegetais e carnes. A humanidade não regride, avança.
Eng. Agr. Tulio Teixeira de Oliveira – Diretor Executivo da AENDA
www.aenda.org.br / aenda@aenda.org.br janeiro.2020 |