Quase um ano depois da fusão das gigantes químicas americanas Dow AgroSciences e DuPont, a Corteva, divisão agrícola da múlti DowDupont ganhou sua independência no início do mês de junho. O anúncio foi feito pelo CEO global, Jim Collins, na bolsa de Nova York.
A Corteva já é considerada uma das líderes do mercado global de sementes e defensivos. Enquanto Collins fazia seu anúncio em NY, ao mesmo tempo, aqui no Brasil, Roberto Hun, presidente da companhia para Brasil e Paraguai, discursava no pátio da empresa em Alphaville, na Grande São Paulo, acompanhado por 450 funcionários.
“É um momento histórico nascer como companhia. O Brasil é o segundo maior mercado da Corteva e vamos dar destaque para investimentos aqui”, disse Hun, ao Valor. Em 2018, ainda como divisão da DowDupont, a Corteva faturou US$ 14,3 bilhões. Desse total, o Brasil respondeu por quase US$ 2 bilhões. Segundo a consultoria Kleffmann, a Corteva tem 10% de mercado e ficou na quarta colocação no ranking das maiores empresas de agrotóxicos no país em 2018.
Conforme Hun, o plano da Corteva é continuar ampliando participação de mercado no Brasil. Para isso, iniciou em 2018 um plano de investimentos em expansão da produção e pesquisas que deverá somar US$ 90 milhões até o fim deste ano.
“Na unidade de Formosa [GO], onde produzimos sementes de milho, estamos criando um centro de tratamento de sementes. É o segundo do mundo”, disse. Também estão sendo realizadas melhorias nas unidades de Toledo (PR) e Franco da Rocha (SP). Ao todo, a expansão de capacidade vai dar conta da perspectiva de crescimento da demanda nos próximos três anos.
Esses investimentos não incluem a área de pesquisa e desenvolvimento. Anualmente, a Corteva investe cerca de 10% do faturamento global nessa frente, algo em torno de US$ 1,2 bilhão. “E boa parte disso é feito
aqui, já que somos o segundo país da Corteva no mundo”, destacou Hun.
Corteva ainda precisa superar obstáculos
Com a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), a Corteva nasceu com valor de mercado de US$ 22 bilhões. Mas o primeiro dia de companhia independente não foi dos melhores para a Corteva.
Como o clima nos Estados Unidos não tem dado trégua, atrasando o plantio de grãos, suas ações caíram 8% e fecharam a US$ 24,81.
No primeiro trimestre, o inverno rigoroso americano já pressionou os resultados da Corteva. Foi o principal fator para uma queda de 11% das vendas em relação aos três
primeiros meses de 2018, para US$ 3,8 bilhões. E a tendência é que as vendas recuem mais uma vez no segundo trimestre. Para 2019, a Corteva prevê que suas vendas líquidas cairão um “dígito baixo” (entre 1% e 5%) e que seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ficará em US$ 2,7 bilhões.
Para o Brasil, as perspectivas apontam para um melhor desempenho operacional, apesar das turbulências geradas pela crise político-econômica, que levaram o dólar à casa dos R$ 4. “O clima de incertezas é grande. Também temos a guerra comercial entre China e EUA e a peste suína [em território chinês], mas as compras para 2019/20 estão progredindo”, disse Hun. O dólar valorizado, contudo, diminui o interesse dos produtores e, atualmente, as vendas estão mais baixas que as registradas no mesmo período do ano passado para a safra 2018/19.
Mirando um segmento que avança a olhos vistos, a Corteva também lança no mercado nacional a Granular, startup agtech de San Francisco adquirida por US$ 300 milhões pela DuPont em agosto de 2017. “A plataforma será dividida em três: recomendações da saúde da lavouras, recomendações agronômicas e a parte que integra o operacional com o financeiro”, explicou Roberto Hun.
“Já temos alguns projetos-piloto com alguns clientes no Brasil e na segunda metade do ano lançaremos o Granular insights [recomendações da saúde da lavoura]”, informou.
Paralelamente, a Corteva também assinou uma parceria de pesquisa com a estatal Embrapa. A ideia é trabalhar a edição genômica – que não é considerada uma manipulação genética – de cultivares a partir de Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats (CRISPRs-Cas9).
Como nem tudo são flores, as restrições ambientais na China também mantêm as margens pressionadas no Brasil. “Estamos com suprimento melhor”, disse o CEO no país. Contudo, não foram repassados para os produtores o aumento total de custos com matérias-primas. Na temporada 2018/19, os aumentos de preços dos produtos da Corteva ficaram na casa dos 4% em relação a 2017/18, segundo Hun.
Com o peso do Brasil, que representou 12% de suas vendas em 2018, a América Latina como um todo responde por cerca de 20%. A fatia dos EUA chega a 50%, a da Europa a 20% e a da Ásia, a 10%.
O processo de construção da nova companhia começou com a fusão da Dow Chemical Company e da DuPont em 31 de agosto de 2017. Desde o início já estava claro o objetivo era criar três empresas independentes e líderes em seus mercados de atuação. No agronegócio, a combinação das expertises de Pioneer, DuPont Proteção de Cultivos e Dow AgroSciences gerou um portfólio robusto. A nova companhia recebeu o nome de Corteva Agriscience em fevereiro de 2018, uma combinação das palavras kohr (coração) e thevah (natureza).
“O consumidor quer saber como se produz a comida, qual é a origem do alimento. Temos que falar com toda a sociedade, não só com os agricultores. Temos que trabalhar com produtos que deixem o mínimo de resíduos possíveis, produtos seguros e sustentáveis. Esta é uma exigência dos importadores, das grandes redes dos supermercados, dos restaurantes e dos consumidores, disse Alejandro Muñoz, vice-presidente da Corteva para a América Latina.
Fonte: Valor Econômico
Foto: Silvia Zamboni