REAVALIAÇÃO AGRONÔMICA
– Parte II –
No final de novembro ocorreu a 2ª reunião da Comissão Técnica de Reavaliação da eficácia dos produtos registrados com indicação para o controle da ferrugem da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi.
Mas uma decisão ali tomada causou estranheza. Por ordem do Ato Mapa no 71 os produtos relacionados – e são 63 – terão que retirar de seus rótulos e bulas as recomendações para controle desse fungo, em um prazo de 90 dias.
Ao examinar a composição dos 63 produtos percebemos que seus ingredientes ativos pertencem aos grupos químicos: TRIAZOL, ESTROBILURINA, BENZIMIDAZOL , AMÔNIA QUATERNÁRIA e MISTURAS DOS MESMOS. Segundo apuramos, a punição é calcada na alegada baixa eficiência desses produtos nos ensaios cooperativos da EMBRAPA, aplicados isoladamente.
E aí pode parar! Os Agrônomos do país não esperavam punição e sim caminhos técnicos para enfrentamento da doença que afeta a principal cultura do país, que ocupa 34 milhões de hectares no nosso território. Mesmo porque a punição é inócua, pois o mercado se encarrega de expurgar rapidamente produtos que já não possuem a mesma eficácia para aquilo que propagam controlar.
A estranheza vem justamente do fato da medida ter sido adotada com base em ensaios com protocolos que não seguem as recomendações descritas nas bulas dos produtos. Esses ensaios são realizados em plena incidência da doença, com esporos para todo lado, e crescimento exponencial dos filamentos tubulares.
Os produtos atingidos pelo Ato 71 já foram aplaudidos por suas performances no combate ao fungo, e continuam sendo úteis em alguns cenários quando associados a outros grupos químicos. Aliás, a Comissão não suspendeu produtos formulados combinando determinados grupos químicos, certamente porque têm utilidade no manejo desta doença. Ora, o agricultor faz isso usando a mistura-em-tanque, de acordo com o seu entendimento de manejo e tem também usado aqueles produtos expurgados pelo Ato 71. Aliás, a própria EMBRAPA levantou que mais ou menos 90% dos agricultores fazem mistura-em-tanque. Sabem por quê? Fica mais barato que usar produto já combinado. Podem chamar de aplicação sequencial, como as Receitas são feitas, em respeito á Norma em vigor.
A verdade é que o fungo, nas condições de extensão contínua da soja brasileira, está criando mais musculatura e ficando adaptado ou mesmo resistente aos fungicidas. Alguns grupos químicos lançados mais recentemente ainda têm boa eficiência, infelizmente, serão rapidamente derrotados. Essa afirmativa, já é voz corrente entre os pesquisadores das empresas. Ninguém quer enganar ninguém. Que nos perdoe a EMBRAPA, que tanto tem contribuído para a ciência fitossanitária, mas é hora de trocar a concepção dos ensaios curativos para a busca de manejos inteligentes, com práticas culturais e uso racional dos produtos. Talvez, em pacotes regionais.
Os produtos podem ser curativos, funcionando após a instalação da doença; protetores, dificultando o estabelecimento do fungo; e, erradicantes, eliminando os esporos que representam a fonte de multiplicação desses seres.
É importante separar os principais produtos para controle dessa praga no tocante aos diferentes mecanismos de ação, pois que ajudam a driblar o processo de adaptação do fungo. Resumimos na tabela não concludente.
MECANISMO DE AÇÃO PRODUTOS
Inibidores da demetilação – IDM (curativos) Tebuconazol, Ciproconazol, Protioconazol, Epoxiconazol, etc
Inibidores da quinona oxidase – IQo (curativos) Azoxistrobina, Trifloxistrobina, Picoxistrobina, Piraclostrobina, etc
Inibidores da succinato desidrogenase – ISDH (curativos) Fluxapiroxade, Bixafen e Benzovindiflupir
Disfunções gerais
• Ditiocarbamato e Sulfurados (protetor)
• Amônia Quaternaria e Cúpricos (erradicante ou esporicida)
Mancozebe e Enxofre
Mistura de cloretos de etilbenzalconio e benzalcônio; e fungicidas cúpricos
A expectativa dos agrônomos era que essa Comissão Técnica, com base no conhecimento dessas características dos produtos e dos estádios vegetativos da cultura, formatasse um tutorial com diversas estratégias, de acordo com os diversos cenários possíveis, para dar aos técnicos uma linha de orientação objetiva antes de uma recomendação em cada caso que se apresente.
O acompanhamento do avanço da ferrugem, realizado pela própria Embrapa através do Consórcio Antiferrugem, tem uma importância ainda não bem explorada. Por exemplo, quando um foco é anunciado, seria possível disparar uma recomendação para aquela região aplicar produtos protetores, e usar produtos erradicantes nas áreas mais próximas ao foco. Uma ação assim orquestrada certamente diminuiria a disseminação dos esporos e a gravidade da doença na região.
Fazemos aqui um apelo ao MAPA para alterar o escopo definido na Portaria 84/2016 sobre o objetivo desta Reavaliação e aproveitar a Comissão Técnica já formada para trabalhar as bases tecnológicas do controle da doença daqui em diante. Se necessário convidar quantos especialistas sejam necessários para aprofundamento dos debates.
Recomendação ao agricultor, sim, punição não.
Eng. Agr. Tulio Teixeira de Oliveira – Diretor Executivo da AENDA
www.aenda.org.br / aenda@aenda.org.br
janeiro.2017