Outro dia foi noticiado no Grande Portal que a Polícia Militar Ambiental do MS impôs multa de R$ 30.000,00 e abriu denúncia relativa a crime ambiental, que pode redundar em até 4 anos de prisão, contra fazendeiro e agrônomo no município de Bonito. O crime? Armazenar agrotóxico no mesmo depósito onde guardava as sementes. A notícia trazia a foto interna do barracão com paredes de madeira, chão batido e telhado de zinco. Notava-se bem arrumadas as pilhas de sementes e de agrotóxicos e em cima de estrados, para evitar contato com o piso.
Ora, certamente a PMA definiu alínea, artigo e legislação pertinente para tal punição. Não levantamos o tema para recriminar a fiscalização. Apenas para dar um cenário real da dimensão a que chegou a escalada paranoica contra esses produtos que ajudam os agricultores a minimizarem as perdas com os ataques de insetos, fungos, nematóides, bactérias, ervas daninhas e outros seres às suas lavouras.
Os ditos agrotóxicos, agora, estão sendo expulsos das pequenas e médias cidades interioranas que nasceram e cresceram sob o impulso das lides agrícolas, pois são procrastinados como os vilões da vez, – a Geni do Chico Buarque. As revendas não podem mais armazená-los na cidade, devem atender ao Plano Diretor. Vitrine com embalagens vazias e depósito fora do perímetro urbano.
O Plano Diretor, entretanto, nada diz sobre os tanques de gasolina e etanol nos postos de combustíveis da cidade. O próprio nome “combustível” já denuncia o grave perigo debaixo dos nossos pés. Uma explosão e adeus quarteirão. Aliás, no mesmo diapasão, o carro é um bólido ambulante, ou não?
Também, o Plano é omisso em relação a estoques de produtos químicos inflamáveis à solta nos mais variados tipos de comércio. E o que dizer dos gasodutos, dos paióis de foguetórios, das fábricas de fósforos, dos botijões e outros utensílios incendiários?
Afinal, qual o pecado capital do agrotóxico? Por que esse ódio irascível e nefasto contra um produto, que no fundo é um medicamento para as plantas? Resíduo nos alimentos? Já está comprovado que é conjectura criada em pesadelo de mentes mal-intencionadas, sem qualquer base científica e propagada à exaustão. O fato real é que ninguém fica intoxicado por agrotóxico comendo seu almoço cotidiano, graças aos diversos fatores de segurança introduzidos para calcular uma dose de uso que deixe traços inexpressivos de resíduos nos alimentos, do ponto de vista toxicológico. Mais perigosos nesse contexto, poder-se-ia citar agentes naturais, como a cafeína contida em prosaicas xícaras de café, degustadas várias vezes por dia; e, o tradicional chá-mate dos gaúchos, de acordo com o renomado IARC – International Agency for Researchon Cancer.
O perigo ao ser humano está nas operações de preparo e de aplicação, pois aí o trabalhador pode ser exposto a concentrações realmente tóxicas. Mas para esse risco, há instruções precisas de como proceder. Existem procedimentos de cautela e equipamentos de proteção individual. E, esse trabalhador não está dentro da cidade, certo?
Na verdade, o pecado dos pesticidas é até menor do que o de outros produtos químicos aqui citados. A aversão nasceu de posturas antigas de uma sociedade mais retrógada contra a pujança de empresas multinacionais. E o mercado de pesticidas sempre foi dominado por elas.
No Brasil, onde ainda existe um Ministério da Reforma Agrária e um Instituto de Colonização para cuidar de assentamentos de agricultores na linha da pobreza, esse tema dos pesticidas serviu (e ainda serve) de lenha para as fogueiras ideológicas de organizações campesinas insufladas em verdade por facções interessadas nas eleições regionais (e depois na federal), ansiosas por desfrutar o gosto do poder.
Aos poucos, inocentemente ou não, a imprensa foi arrastada pela maré da notícia ruim que desperta curiosidade mórbida e – porca miséria – vende mais. De tal forma que a difusão jornalística e televisiva foi tecendo um intrincado crochê de falácias e os pesticidas ficaram prisioneiros nesta rede. A imprensa não sabe mais onde está o certo e o errado, e, repete beociamente a notícia pescada, desde que presumivelmente angarie público já viciado neste tipo de desinformação.
Retornando à notícia do início, merece a reflexão de que as legislações em torno dos agrotóxicos foram contaminadas pela repetição continuada de inverdades ou distorções ecoadas pela imprensa. Tornaram-se péssimos juízes ao não reconhecerem atos verdadeiramente delituosos de simples negligências ou falta de condições técnicas, financeiras e sociais. São apenas verdugos. Os produtos estavam lá quietos, risco próximo a zero, veio a legislação e surra neles.
Eng. Agr. Tulio Teixeira de Oliveira – Diretor Executivo da AENDA
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