Era uma vez um país americano democrático, pero no mucho. Sua carta de constituição demandava três poderes a serviço da população. A principal tarefa desses poderes era prover ao povo a alimentação, representada pelo pão.
Ao 1º Poder cabia a produção ou aquisição do trigo e um pouco de mandioca, para dar um sabor nativo. O 2º Poder era responsável pelo fabrico do pão. O 3º Poder tinha a incumbência de distribuir o sacrossanto alimento.
Um belo dia o 2º Poder recusou um grande lote de trigo do 1º Poder, alegando contaminação por 14 agrotóxicos. Resultado: um quarto da população ficou sem pão… Só água que naquelas terras era abundante.
O 1º Poder afirmou que não era bem assim, que os agrotóxicos eram necessários, pois pior era ficar sem eles e não alcançar a quantidade de trigo e mandioca planejada.
O 3º Poder informou que a distribuição havia sido racionada, de forma que toda a população havia recebido seu pão, em quantidades “sustentáveis”.
Como o 2º Poder não abriu mão de seu direito discricionário, a situação permaneceu e novos lotes de trigo foram recusados e a população apertou mais ainda o cinto com a nova dieta imposta.
Reuniram-se os mandachuvas da nação. A representação do 1º Poder solicitou a suspensão do rechaço dos lotes, enquanto os Três Poderes não chegassem a um acordo. Não houve armistício, o problema persistiu.
Foi chamada a Organização Euroasiatica (OEA) para intermediar (*). Em frente ao Castelo Cívico onde a conferência se realizava o povo fazia protestos. (*) OEA = Organização Não Governamental dos países mais produtores de agrotóxicos, portanto entendidos no assunto.
OEA recomendou retirar da grade de produtos usados na produção aqueles agrotóxicos mais antigos (e mais concorridos) e substituí-los por novos produtos (*), não importando o custo. (*) Os mais antigos são mais estudados e já se sabe os riscos potenciais, enquanto os novos produtos não apresentam grandes riscos, ao menos nos primeiros 20 anos de vida, quando estão sob proteção de patente.
O 1º Poder “fez beicinho”, mas concordou. O Ministro Em Chefe do Castelo Cívico bateu então o martelo.
Estava encerrado mais um golpe dentro do democrático, desarticulado e incompetente Estado americano. E os custos dispararam.
Pobre Estado, incapaz de administrar suas potencialidades, avesso a planejamento sério e continuado, prefere a emoção pontual à razão conjuntural, freqüente e facilmente se rende a influências e estratégias externas.
Tulio Teixeira de Oliveira – Diretor Executivo da AENDA